"Olhe pela janela" brinca com a expectativa do leitor a cada virada de página

25/02/2022

Você sabia que o humor é uma das linguagens narrativas mais sofisticadas? E, não raro, o que nos arranca risos em uma história é o momento em que ela subverte completamente nossa expectativa, não é mesmo? O mesmo vale para o livro ilustrado que vamos apresentar para você hoje: em Olhe pela janela, a premiada ilustradora russa Katerina Gorelik constrói uma expectativa para logo mudar a perspectiva e surpreender o leitor, jogando com texto e imagem.

humor olhe pela janela

Ao espiar pelas janelas de diversas casas ricamente desenhadas pela artista russa, o leitor é levado pelo texto e pela ilustração a imaginar uma cena, uma história, um desfecho. Mas, ao virar a página – e, metaforicamente, abrir a porta, adentrar a casa –, o contexto entra em cena, tanto nas imagens quanto no texto, mudando completamente o sentido até então insinuado pelo detalhe que a janela permitia entrever.

 

humor olhe pela janela

A simpática senhorinha vira, então, uma bruxa! ;-) A brincadeira começa logo na capa, onde vemos, por uma janela, um lobo que parece prestes a devorar a chapeuzinho. Ao abrirmos o livro, no entanto, a guarda revela que o bicho está, na verdade, lendo o livro da famosa menina de capuz vermelho. Na parede de sua sala aconchegante, iluminada por um abajur e aquecida por uma pequena lareira, o lobo guarda fotos de uma simpática senhora (seria a vovozinha?) e de três porquinhos (seriam os famosos Três Porquinhos?).

 

Olhe pela janela: intertextualidade e contos de fadas

Essa intertextualidade, com referências aos contos de fadas, às histórias clássicas da infância e aos personagens que permeiam nosso imaginário, como dragões, bruxas ou cavaleiros, acompanha o leitor e brinca com ele por toda a obra. Da mesma forma, alguns simpáticos ratinhos, que estão em quase todas as páginas, guiam o leitor nesse universo em que uma virada de página muda completamente a perspectiva.

humor olhe pela janela

Há referências divertidas não apenas aos clássicos, mas também a ícones cult do universo adulto, como o filme francês Le chat noir, de Tristan Convert, cujo cartaz aparece em uma das últimas cenas.

 

Crianças pequenas vão adorar olhar pelas janelas

O jogo de perspectivas e de expectativa-subversão-surpresa é o que conduz as pequenas histórias, não conectadas entre si, que vão sendo reveladas ao longo deste livro interativo, que explora o conceito de livro objeto de uma forma divertida e surpreendente. Assim, o leitor é convidado a participar, a brincar com a autora, os textos e imagens, a interagir. É ele, afinal, que vai descobrindo as "pegadinhas" que Katerina Gorelik esconde atrás das janelas e portas.

Olhe pela janela

Além disso, o livro tem um ritmo e uma certa repetição, uma vez que a estrutura narrativa é sempre a mesma. Está aí outra característica que fascina os pequenos leitores. Explorar o lugar do "segredo", mesmo que na fantasia do livro ilustrado, também apaixona crianças pequenas.

 

Ilustrações escolhidas para a Feira do Livro de Bolonha 

As ilustrações, por vezes minuciosas para compor/recompor a cena, também exploram os contrastes de cores, trabalhando bem os traços detalhados, irreverentes e expressivos em que predominam o vermelho, o verde e suas variações. Não à toa, as ilustrações da obra foram selecionadas para integrar a Mostra de Ilustradores da Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha, em 2021.

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Saiba mais sobre a autora

Katerina Gorelik nasceu em 1980, na Rússia. Formou-se em direito e trabalhou durante muitos anos como advogada até decidir seguir sua outra paixão de infância (além dos animais) e dedicar-se às ilustrações. Em 2011, graduou-se em arte na British Higher School of Art & Design, no Reino Unido. Escreve e ilustra livros voltados para o público infantil desde 2015. Suas obras já foram publicadas em diversos países como França, Itália, Portugal, Coreia e China.

 

 

Outros livros que brincam com a expectativa e a perspectiva do leitor

Esse "combo" expectativa-perspectiva é uma combinação literária poderosa, que pode trazer muito humor -- como neste caso --, pode nos fazer pensar (aqui, o riso vai ser de nervoso, rs!), pode mostrar outras formas de ver uma situação ou a imensa riqueza dos detalhes. Trouxemos uma pequena seleção de obras que brincam com esse "combo" e podem nos levar a explorar a imaginação, o jogo e a surpresa com os pequenos leitores.

Capa de Espelho, livro infantil de Suzy Lee1) Espelho

Autora: Suzy Lee Ilustradora: Suzy Lee Idade recomendada: a partir de 4 anos Selo: Companhia das Letrinhas Ao se deparar com seu reflexo no espelho pela primeira vez, uma menina começa uma grande brincadeira consigo mesma. Entre caretas, piruetas e risadas, a explosão de cor e formas no meio da página vai crescendo conforme ela e o leitor mergulham cada vez mais nessa dança da imaginação. Logo, a menina e seu reflexo se tornam um só – até mesmo para o leitor. Afinal, o que é a realidade e o que é a imagem mostrada pelo espelho?

>>Olha que bacana!

Suzy Lee é das finalistas do Prêmio Hans Christian Andersen, um dos mais importantes do mundo, considerado uma espécie de Nobel da literatura infanto-juvenil.

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Capa do livro infantil Caos!, de Lilli L' Arronge2) Caos!

Autora: Lilli L’Arronge Ilustradora: Lilli L’Arronge Tradutora: Hedi Gnädinger Faixa Etária: A partir de 2 anos Quando o pequeno Bruno come uma banana e depois joga a casca no chão, sua irmã mais velha, horrorizada, imagina junto com ele o caos que aquilo pode causar. Uma pessoa escorregando, porcos escapando, bolos voando, prédio pegando fogo, tudo levando à bagunça total. A confusão inicial, que parecia ser engraçada, vai se acumulando a cada página virada.

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Capa do livro De repente, de Chris Naylor-Ballesteros3) De repente

Autor e ilustrador: Chris Naylor-Ballesteros Tradutora: Gilda de Aquino Faixa Etária: A partir de 2 anos (leitura compartilhada) ou 6 anos (leitura independente) O besouro tinha uma amiga. Ela chegou, de repente, e se instalou com ele no alto do rochedo. Lá, todos os dias, eles faziam um piquenique e, ao entardecer, observavam a lua. A amiga, porém, sumiu – de repente. O besouro procurou, procurou, procurou até que, do alto do rochedo, de repente, pensou ter avistado a amiga do outro lado da floresta. Partiu, então, em uma jornada arriscada para encontrá-la. Mas será que é mesmo ela? Usando com maestria apenas o preto e o vermelho nas ilustrações, essa delicada fábula combina duas narrativas, a textual e a visual, para contar uma história de amizade cheia de nuances e camadas de leituras.

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E você? Que livros incluiria nesta lista?

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