Histórias para dormir: como torná-las aliadas na hora do sono

15/07/2022

A hora de dormir costuma ser um dos momentos mais desafiadores nos cuidados com as crianças. Ainda que estejam muito cansadas, a maioria tenta ficar bem acordada lançando mão de várias estratégias para isso. Frases como "só mais cinco minutinhos", "quero beber água" ou "só mais uma história" costumam aparecer nessa hora (e certamente você deve conhecer muitas variantes!). Por isso, é importante desenvolver um ritual de sono para tornar o momento de relaxar previsível e ajudar o cérebro dos pequenos a entrarem no modo de repouso. E os livros são excelentes aliados para fazê-los relaxar e diminuir o ritmo, antes de dormir. Eles podem fazer parte da rotina que ajuda na higiene do sono, um conjunto de hábitos importantes para ter uma boa noite de descanso.

História para dormir: Ilustração do livro infantil Muito cansado e bem acordado

Ilustração do livro Muito cansado e bem acordado, de Susanne Straßer

Mas como escolher os livros certos para não provocar o efeito contrário? Narrativas especiais como O coelhinho que queria dormir, de Carl-Johan Forssén Ehrlin, funcionam? Que tipos de histórias são melhores? O tom de voz, na leitura, faz a diferença? E o ambiente, como deve estar preparado? Conversamos com especialistas para auxiliar pais e cuidadores a tirarem melhor proveito das histórias para dormir.

Capa do livro O coelhinho que queria dormir

No livro O coelhinho que queria dormir, o texto indica as palavras que devem ser enfatizadas, as ditas com calma e até os bocejos. Faz milagres! 

“A leitura é um hábito excelente para o ritual do sono”, afirma o pediatra Gustavo Moreira, especialista em medicina do sono e pesquisador do Instituto do Sono de São Paulo (SP). “É um costume que grande parte das pessoas perdeu, mas é uma ferramenta importante para ser inserida naquela sequência de eventos da casa, antes de ir para cama, que pode ser: jantar, ter alguma interação em casa, brincar, ir para o banho, colocar o pijama, ir para o quarto, diminuir as luzes e, finalmente, fazer uma boa leitura juntos”, sugere. A previsibilidade da rotina ensina às crianças, desde pequenas, que aquele é o momento de relaxar e auxilia o cérebro a entrar no modo de repouso. 

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“Uma das grandes vantagens de ter a leitura como um hábito, sobretudo nesse momento da noite, é que tira os eletrônicos, uma chaga para o sono das crianças”, afirma o pediatra Gustavo. “O ideal é que, ao escurecer, por volta das 19h, todos os eletrônicos já sejam desligados”, orienta. Ler com os filhos também ajuda a estreitar ainda mais o vínculo entre a família, já que é um momento íntimo, de interação, contato e conversa. “Diferente do que acontece com os eletrônicos, a leitura não é passiva. É um estímulo intelectual à imaginação”, explica o especialista. 

Importante: você também precisa estar no momento. “Não adianta ler com o livro em uma mão e o celular na outra ou falando com outra pessoa. É importante estar ali, 100% entregue e presente”, destaca a psicóloga Gabriela Luxo, mestre e doutora em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e fundadora da Clínica Diálogo Positivo (SP).

História para dormir: imagem do livro O coelhinho que queria dormir

Ambiente, entonação e forma de ler na hora de dormir

O ambiente, o tom de voz e a escolha dos livros fazem toda a diferença na hora de colocar as crianças na cama e conduzi-las para o momento de descansar e preparar o corpo e a mente para dormir. Para a psicóloga Cássia Bittens, mestra em Literatura e Crítica Literária e idealizadora do projeto Literatura de Berço, não há regras específicas. Cada família - e até cada pessoa dentro de uma mesma família, já que o pai pode ler de um jeito e a mãe de outro, por exemplo - encontra uma forma melhor de fazer. “Para termos uma boa noite de sono, precisamos estar em um ambiente mais tranquilo. É preciso diminuir a energia do mundo externo para nos conectarmos com o mundo interno. Uma luz mais baixa pode ser uma estratégia interessante”, recomenda ela. 

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O papel do livro, nesse ponto, é fundamental, já que as histórias favorecem a imaginação e estão relacionadas aos sonhos.

É quase como uma passagem, a criança está desperta e você mostra, com o livro, que existe o mundo da fantasia. É como se você estivesse dizendo para o seu filho: ‘Você pode dormir e entrar no mundo da sua fantasia’ (Cássia Bittens, do Literatura de Berço) 

E a entonação de voz, faz diferença? Alguns livros como O coelhinho que queria dormir trazem orientações de como o adulto deve ler, em que pontos entram bocejos, repetições, sussurros. “Alguns autores dão essas dicas para o mediador, que é o adulto leitor, mas quando não tem, esse adulto tem que se sentir à vontade naquela leitura, não pode ser forçado”, explica Cássia. O ideal é que a pessoa que está lendo tenha consciência daquela história e pense em que estratégia quer seguir. 

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Como evitar que o livro desperte a criança?

Se você é mãe, pai ou convive com uma criança pequena certamente reparou que a hora de ir para a cama é o momento em que ela quer esticar o papo, fazer xixi, beber água, relembrar algo que aconteceu na escola… Tudo para não se entregar ao sono. Também as histórias dos livros e as ilustrações, que os pequenos vão querer olhar em detalhe, podem despertar esse interesse. Como fazer, então, para ajudar a criança a dormir com a leitura, em vez de deixá-las ainda mais acesas?

A chave são os combinados prévios. “As crianças sempre vão querer conversar, principalmente quando começam a ter mais o domínio da fala. Claro, responder a algumas questões, em uma conversa, é importante, mas é preciso ter aquela hora do ‘acabou, agora é hora de dormir’”, diz Cássia. “Senão, a criança entra num looping, com questões, ideias, brincadeiras e isso vai trazendo mais excitação. O mundo externo fica mais presente, o que torna mais difícil fechar os olhos e descansar”, relata. O mesmo vale para o famoso pedido: “Podemos ler mais uma história? E mais uma? E a última?”. Combine antes, sempre, quantos livros vocês vão poder ler à noite. 

Pode mostrar os desenhos? Segundo a especialista, sim, porque isso faz parte da história. “Em um livro ilustrado é importante mostrar, sim, porque os desenhos fazem parte da narrativa. Ler a ilustração é essencial também. O que atrapalha é ficar conversando muito sobre elas”, diferencia. Nesse caso, vale trazer, novamente, o combinado. O adulto pode, é claro, responder a alguns questionamentos, mas lembrando sempre de avisar quando chega o fim, a hora de parar a conversa e escutar o silêncio, para pegar no sono. 

 

A escolha certa dos livros

Não basta fazer a rotina, diminuir as luzes, desligar os eletrônicos. É preciso pensar bem na escolha dos livros que farão parte deste ritual. A dica de Cássia é priorizar os livros que tenham mais narrativa - justamente para diminuir a probabilidade de bagunçar o delicado equilíbrio entre o interesse pela história e o convite ao descanso. “Para os bebês, é interessante priorizar os livros mais melódicos, que tragam a música da palavra, um ritmo mais calmo, mesmo, que embala o sono”, orienta a especialista. 

Também é importante evitar temas que causem angústia, medo, suspense, nesse momento. Prefira deixar essas leituras mais eletrizantes para o dia. “É interessante que os pais escolham, junto das crianças, leituras mais tranquilas. Não que o livro cause medo, mas o conteúdo pode gerar questionamentos excessivos e aflições”, aponta a psicóloga Gabriela Luxo. 

A seleção vai depender também dos hábitos de leitura de cada família. “Famílias que não tinham o hábito da leitura, talvez prefiram escolher histórias mais curtas - mas sempre com qualidade”, reforça Cássia. 

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Uma dica importante: deixe os livros disponíveis e ao alcance das crianças durante o dia. Assim, elas podem se familiarizar com as histórias durante o dia, se aproximar, folhear, ver as ilustrações. Evite também ler um livro novo na hora de dormir, com o qual a criança ainda não teve nenhum contato. Deixe sempre que ela reconheça o material e as páginas primeiro, em um momento antes do início do ritual do sono. “Quando a criança não conhece a história, talvez fique mais agitada e curiosa - o oposto do que queremos na hora de dormir”, sugere ela.

E por aí? Qual é a história de dormir preferida do seu filho? Se vocês ainda não elegeram um favorito, separamos aqui algumas ótimas opções: 

 

7 sugestões de livros com histórias para dormir

História para dormir: capa do livro infantil Bocejo

Bocejo, e Ilan Brenman e Renato Moriconi (Companhia das Letrinhas)

 

História para dormir: Capa do livro O coelhinho que queria dormir

O coelhinho que queria dormir, de Carl-Johan Forssén Ehrlin (Companhia das Letrinhas)

 

 

História para dormir: capa do livro a Elefantinha que queria dormir

A elefantinha que queria dormir, de Carl-Johan Forssén Ehrlin (Companhia das Letrinhas)

 

História para dormir: capa do livro Só mais cinco minutos

Só mais cinco minutos, de Marta Altés (Brinque-Book)

 

História para dormir - Capa do livro Marco queria dormir

Marco queria dormir, de Gabriela Keselman (Companhia das Letrinhas)

 

 

História para dormir: capa do livro Muito cansado e bem acordado

Muito cansado e bem acordado, de Susane Straßer (Companhia das Letrinhas)

 

 

Capa do livro A última história antes de dormir, da Brinque-Book

A última história antes de dormir, de Nicola O'Byrne (Brinque-Book)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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